Consumo: a infelicidade ao alcance de todos
A maior parte das crianças da Febem roubou a primeira vez para consumir, instigada pela propaganda maciça que tem a petulância e a insensatez de ditar o que somos, de onde viemos e para onde vamos. Os desejos destes meninos e meninas podem ser um tênis igual ao do ídolo rap, a bolsinha da Xuxa, a sainha da Carla Perez ou a droga que irá abrir o portal do poder. Eles pensam assim: — Besta é tu que perde tempo e saúde trabalhando — mesmo que estejam naquela situação degradante de internos da Febem.”
A declaração é da psicóloga Henriette Tognetti Penha Morato, da USP, e quem me chamou a atenção para ela foi o educador Cláudio Rúbio, o Claudinho — que, como tantos outros bons amigos de internet, nunca encontrei na “vida real”. Sempre preocupado com crianças, sobretudo com aquelas que vivem e morrem às margens do “sistema”, Claudinho é mestre em encontrar coisas assim, que dão o que pensar. Essas palavras estavam, paradoxalmente, numa reportagem sobre os riscos que correm as crianças superprotegidas, escrita por Lilian Primi e publicada pelo “Estadão”.
O nível de infelicidade gerado pela sociedade de consumo nunca deixa de me assustar. Houve um tempo em que as crianças usavam sapatos — melhores ou piores, conforme a sua situação social, mas essencialmente iguais: eram apenas calçados. Hoje são Nikes, Adidas e Reeboks, e um menino mata outro menino por um par de tênis. Não porque não tenha o que calçar, mas porque não tem o tênis que a publicidade diz que é bacana, o tênis que é fundamental para que seja reconhecido pelo seu círculo social.
O pior é que, em seus sonhos malogrados de consumo, as crianças da Febem não são a exceção, mas a regra: o que as separa das crianças da classe média é que não têm a quem infernizar em casa, pedindo mais um boné, mais uma Barbie, mais uma camiseta. Mesmo os adultos mais atentos e mais críticos, que reagem contra o consumo óbvio das etiquetas do lado de fora, acabam, por exemplo, bebendo uma vodka em vez da outra, só porque a imagem que uma conseguiu criar combina melhor com o seu jeito de ser, ou com o que gostariam que fosse o seu jeito de ser — e essa “mensagem” está lá, no fundo da cabeça, na hora de comprar. Não importa que não se consiga diferenciar uma da outra sem os rótulos, ou mesmo que nem se beba; uma é cool , a outra não é. A partir daí, vamos inventar mil razões para justificar a escolha que não fizemos.
Perversamente, as imagens do consumo nunca funcionam no positivo, isto é, quem bebe a vodka (ou usa o tênis, ou fuma o cigarro) não se sente particularmente feliz por causa disso; mas quem vai ao shopping e não pode levar o que é cool sente-se inferior ou, no mínimo, inadequado — e volta para casa com uma frustração pré-fabricada, uma sensação ruim que a cada dia faz mais e mais vítimas. Até porque não há limites para essa infelicidade. Há sempre um novo objeto a ser cobiçado, um novo patamar de desperdício a alcançar, até se chegar aos 3.500 pares de sapatos da Imelda Marcos ou às torneiras de ouro de Saddam Hussein, à sua maneira crianças da Febem, desmascaradas pelas crianças da classe média lá de cima, que tudo podem.
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As blusas da foto (GAP), são genuínas falsificações chinesas, vendidas em Xangai a US$ 4 cada. Com direito a etiqueta de US$ 188.
quinta-feira, abril 10, 2003
domingo, abril 06, 2003
Em Icaraí tem uma padaria que é a melhor coisa que eu já vi, dá banho até na minha favorita até então, aquela da Real Grandeza esquina com Voluntários, que a gente sempre ia depois da Matriz tomar o café da manhã. Lá (na de Botafogo) tem todos os tipos de pães e frios pra se montar sanduíche, uma diliça. Mas na de Niterói tem pizza montada na hora, sanduíches, sorvete, salgadinhos e docinhos que a gente come com os olhos, porque além de gostosos são bonitos a beça. E hoje eu descobri que tem também comida a kilo, e o chá da tarde. Me esbaldei, comi sanduichinhos, salgadinhos, pizza, pão de queijo, docinhos, torta de maçã, hummm... o que é aquela torta de maçã enfeitada que nem as de desenhos animados? Ainda compramos chá de frutas e flores pora fazer geladinho, que nem um que tomamos no Downtown. Muito bom mesmo. Acho que engordei uns 150 kg, comi tudo o que dispensei durante a semana. Mas como é bom comer!
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