sexta-feira, abril 18, 2003

Jornalistas tendenciosos, sensacionalistas, manipuladores. Jornalistas?
Márcia Goldsmith é o que há.
Pelo menos, garante boas risadas.
Curtir 5 minutos intensamente, mesmo sabendo que nunca mais voltarão, ou levar a vida de sempre, sem maiores emoções e decepções (corre-se o risco)?

quinta-feira, abril 17, 2003

A brisa do final da tarde é gostosa, mexe os cabelos com leveza, dá uma sensação de frescor deliciosa, que contrasta com o calor do resto do ano e mesmo com o sol quente desses dias de outono. Observo as pessoas a volta, sempre correndo, sempre com pressa, jogam a gente longe se nos distraímos. Nessa época do ano todos arrumam motivos para se esbarrarem, trocam cotoveladas numa disputa por caixas de bombons e ovos de chocolate. E depois, vão todos felizes para casa.
A barca balança mais que de costume e ainda falta um pouco para encher, apesar da multidão que se apressa em arrumar algum lugar para sentar. Pego um livro para ler, mas minha atenção se desvia para os rostos e corpos presentes. O que será que pensam e sentem? Pra quem será o chocolate da sacola, provavelmente conquistado numa disputa ferrenha?
Hoje as pessoas parecem mais delicadas, todas pedem desculpas, agradecem e são gentis, comentando as casualidades do dia-a-dia sorrindo. Sorrio de volta, reparando o rapaz com o pacote de fraldas debaixo do braço que é sutilmente convidado a se retirar, como se preto e pobre não tivesse as mesmas necessidades que outros tidos de sorte maior. E aquelas pessoas seguem em frente, como se nada tivesse acontecido. E eu sigo em frente, um tanto quanto incomodada, mas também não faço nada quanto a indiferença alheia. Termino igual a eles, indiferente, pelo menos aparentemente. Idiota.
Eu tenho mania de reparar nas pessoas, como agem, o que dizem... Prestar atenção e entender, "aprender" o que é de fato aquela - ou essa - criatura. E percebi que em certos casos, quando neguinho fala muito mal de uma coisa, pessoa, lugar ou atitude, muitas vezes é um desejo encubado, uma vontade louca de fazer parte daquilo, coisa não assumida sabe-Deus-lá-porque. Mil motivos, eu sei bem. Inveja, falta de coragem, vergonha, medo... Ao invés de falar mal e não assumir, deviam aprender a ficar calados e observar, tomar coragem e "sair do armário".

quarta-feira, abril 16, 2003

E todos os dias a gente conhece pessoas, ou aprende algo com a figurinhas antigas mesmo. Das novas, algumas poucas ficam, a maioria se vai, mas deixa algo, alguma lição, algum ensinamento. E aí a gente descobre que não existem regras na forma de agir, e que existem criaturas tão distintas que sequer podemos imaginar. Isso pode se tornar umador de cabeça ou uma puta alegria, uma esperança até. Pena que não depende só de nós.

terça-feira, abril 15, 2003

Não sei se é certo ou justo comigo mesma viver sonhando, esperando algo perfeito, que eu só vejo vez ou outra por aí, esbarrando em certos casos, nas entrelinhas de algumas declarações ou suspiros alheios. Ok, nada é perfeito. Mas o que para outros é um caso com falhas e problemas da vida real, pra mim é ideal, a pintura perfeita, sem necessidade de retoques. Talvez só alguns poucos felizardos mereçam essa alegria perene.
Não sei se devo querer mais, sempre mais, ao invés de simplesmente sorrir e agradecer pelo que tenho. Tenho sorte até demais, e a ânsia e o eterno desejo ao mesmo tempo que dão força, certa hora cansam. Por outro lado, existe o tédio de quando alcançamos o que mais desejamos, aquilo sentido e pedido do fundo da alma. Tô confusa. Não por não saber o que quero, mas por não saber o que devo querer realmente. Devo me agarrar as raspas e restos que tenho? Devo buscar sempre mais e descartar o que não é o ideal, ou me contento com o "suficiente"? E se eu simplesmente ficar entediada quando o ideal chegar (se é que ele existe para mim)? Criar "ideais" é a maior besteira do mundo, porque as coisas não são decididas única e exclusivamente por nós. E esse lance de esperar ansiosamente pela festa e ficar desanimado quando ela chega é burrice e vai contra as minhas crenças, mas sentimentos são mais fortes que crenças. Se é pra nadar, nadar e morrer na praia, melhor então ter a certeza da utopia (contradição).
Frio, sono.
E o baticum voltou.
Pelo menos não está chovendo.
(Sim, há goteiras também.)
De uns meses pra cá tenho tido sonhos, e me lembro deles. Isso por si só já é uma grande coisa, pois eu nunca me lembro de sonhos. O engraçado é que tenho sonhado com pessoas que realmente passaram pela minha vida, e os sonhos parecem bem reais. É que nas raras vezes que lembro de algum sonho, as personagens são sempre desconhecidas. O que que isso quer dizer? Talvez nada, mas é que sonho quase sempre é legal, contei só por contar.

(ouvindo Manic Street Preachers - Ocean Spray)

domingo, abril 13, 2003

Ontem fui pra Pendotiba, churrasco na casa da prima mais legal do Leandro. Cheguei, bebi umas vódegas com suquinho Del Valle de pêssego, manga e um suco safado lá de laranja, com direito a mosca e tudo. Quando tava quase ficando legal, o sono bateu. Deram as doze badaladas e fui tirar um ronco na rede. Dormi pacas! Imagina se eu aguento uma noite de balada na Loud! ou na Matriz? Foi-se o tempo... Tava mó frio lá, delícia, alguém fez a bondade de me cobrir com um cobertor e dali só levantei pra fazer xixi e ir embora. E é isso. Agora levo uma vida terceira idade, mas não faço questão de muito mais que isso. Não tenho mais pique... Nem reais. Esse mês tô só com a conta pra ir pra faculdade. Quase mendiga mesmo. E preciso arrumar uns dinheiros pra ir no meeting do Gilson Martins. Não posso perder bolsas legais quase com precinho de camelô.
Uia!
Recebi hoje por mail, matéria antiga do Dapieve:

"Caso interessante

Um dos programas mais instrutivos exibidos no Brasil é o “Sala de emergência”, sextas-feiras, 22h, no canal por assinatura Discovery. Embora o nome seja uma tradução do emergency room que, abreviado, deu no “E.R.”, ou “Plantão médico”, a série não tem nada de edulcorada, nada de romântica, nenhum George Clooney, nenhuma criancinha mimosa presa na caminha. É gente de carne, osso e vísceras, muitas vísceras, flagrada em estilo telejornalístico, medicando e sendo medicada no setor de emergência de grandes hospitais públicos americanos, muitos deles ligados a universidades.

“Sala de emergência” ensina um bocado de coisas sobre o duro exercício da medicina de trauma, sobre a frágil anatomia humana, sobre a onipresente fatalidade, sobre essa existência miserável, enfim, sobre nós, caniços pensantes a quem basta uma gota de água para matar (obrigado, Pascal). Dia e horário, aliás, parecem-me mais-que-adequados para a sua exibição: se o cidadão não tem nada melhor para fazer e está em casa assistindo à televisão numa sexta-feira à noite, precisa mesmo ver algum drama humano que lhe assegure estar numa boa, com tanta gente sofrendo de verdade lá por cima.

Lembra do garoto do filme sueco “Minha vida de cachorro”? Ele botava suas pequenas desgraças cotidianas em perspectiva, ao pensar, por exemplo, na cadela Laika vagando pelo espaço até a morte, encapsulada por cientistas soviéticos em benefício da ciência. O programa do Discovery cumpre papel similar. Naturalmente, para boa parte da população brasileira, dependente (sic) do SUS, “Sala de emergência” é um seriado de ficção científica. Nele nunca faltam leitos, remédios, centros cirúrgicos, médicos, enfermeiros. Também nunca falta esperança: a edição descarta os casos em que, a despeito de todos os recursos alistados na frase anterior, o paciente morre. Melhor assim.

Bom, sou espectador de “Sala de emergência” há um bom tempo. Ver alguém com o olho pendurado para fora de órbita em conseqüência da violência de um choque no trânsito torna fútil qualquer problema do decorrer da semana, a menos, claro, que você tenha ficado com o olho pendurado para fora da órbita em conseqüência da violência de um choque no trânsito. Nunca foi o meu caso, graças a Deus ou coisa parecida. Não me peça, porém, para assistir a nada parecido com um “Plantão veterinário”. Bicho sofrendo está além do meu limite emocional. Óbvio que, para não ser contraditório, eu deveria ser vegetariano. Juro que às vezes penso nisso, entre o Bob’s e a Porcão.

Digressiono, digressiono.

Bem, enrolei, enrolei — com medo de que os leitores fugissem se eu entrasse de cara no assunto específico que me fez escrever sobre “Sala de emergência”. Bem, sexta-feira passada assisti ao caso mais bizarro de todo o meu tempo de assistência, caso que por coincidência envolvia um brasileiro, de sobrenome Domingues. Ou muito me engano ou o episódio chamava-se “Miraculoso”. Caso estejas a tomar o café, vai por mim, lê a coluna mais tarde, troca para tema mais ameno, Botafogo, Iraque, Coréia do Norte.

Domingues deu entrada num hospital de Orlando, Flórida, com dores lancinantes, depois de ter despencado de uma escada sobre uma árvore. Um dos galhos entrou direto pelo seu ânus, empalando-o. O galho ainda estava lá. Os médicos faziam fila para testemunhar aquilo que um deles chamou de “caso interessante”. Na mesa de operações, primeiro foi necessário serrar a parte da madeira que estava para fora, com algumas folhas e tudo, para que o paciente pudesse ser deitado de costas, de modo a que se fizesse uma incisão em seu abdômen. Os cirurgiões não sabiam até onde tinha chegado o galho e que estragos ele tinha feito nos órgãos internos pelo caminho. Mexi-me no sofá.

Aberto sob os holofotes, Domingues revelou-se, veja só, um homem de sorte. A ponta havia parado a apenas três centímetros de seu coração — e não maltratara muito intestino e bexiga na passagem. Grande demais para ser retirado por inteiro (1,20 metro de comprimento total, com seis centímetros de diâmetro), o galho teve de ser serrado em pedaços. No processo, o paciente ficou cheio de farpas e de serragem por dentro. Apesar de a equipe médica ter lavado suas tripas como se estivesse preparando dobradinha à moda, uma infecção parecia iminente. Costurou-se o homem à espera dela. Remexi-me no sofá.

No entanto, veja só, a infecção não veio, ufa. Pai de duas menininhas gêmeas deixadas no Brasil, Domingues recuperou-se muitíssimo bem. Ao fim do programa, gravado três meses depois, ele apareceu dirigindo até o local do acidente, uma mansão onde trabalhava. Sua expressão de alívio era impressionante. Fossem outros os tempos e as circunstâncias, poder-se-ia dizer que esse brasileiro nasceu com a bunda virada para a Lua."