Tô tensa: será que dessa vez o Wilco vem mesmo?
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EXTRA - TIM FESTIVAL, A LISTA COMPLETA
WHITE STRIPES E WILCO CONFIRMADOS
sexta-feira, agosto 29, 2003
O olhar perdido
Um dia, meninas criadas, vida ganha, eu quero morar bem longe do Rio de Janeiro. Não só isso. Pretendo varrer a cidade da memória e da consciência, pretendo conservar somente uma pálida lembrança de como ela é. Então, outro dia, às vésperas de partir, quero voltar ao Rio de Janeiro e, olhos de gringo operados de catarata estética no auto-exílio de uma Dublin, descobrir, bestificado, o que perdi durante a maior parte da minha existência.
Há momentos em que meu olhar perdido entrevê o Rio de Janeiro. Apenas uma chispa de cidade, logo retirada de vista pela rotina, pela pressa e pelo medo. Só quem espera a morte já não se importa com nada, não tem nem compromissos nem temores. Daí meu sonho. Como o traficante de “Vivendo no limite”, que, espetado pelas costas na grade do topo de um arranha-céu de Nova York, diz ao paramédico: “Adoro esta cidade.”
Ou como um dos casos narrados no próximo livro de Drauzio Varella, do qual o autor leu trechos na Festa Literária Internacional de Paraty. O tema não é leve: pacientes terminais e sua relação com o inevitável. Um deles, muito mal, pergunta ao doutor se aquela será a última vez que irá para o hospital. O médico tem de admitir que sim, talvez seja. O doente, então, dispensa a ambulância: “Vamos de carro, que o dia está bonito.”
Passei pela porta do Maracanã pouco antes do início do último Fla-Flu. O dia estava bonito. Fazia sol e frio, combinação rara por estas bandas. A luz começava a cair, conforme as pessoas, não muitas, vestindo vermelho-e-preto ou verde-vermelho-e-branco acorriam ao Maior do Mundo. Ali, rapidamente, eu pude ver a beleza do Rio de Janeiro. Senti uma espécie de ternura por aquela gente, com quem compartilho a paixão, não o seu objeto.
Mais freqüente é ter uma epifania geográfica no Aterro do Flamengo, onde caminho com alguma regularidade. De vez em quando, por entre o suor e a endorfina, aparecem a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, a Urca, Niterói, as serras nos dias claros, o Corcovado e seu Cristo envolto em nuvens, como na ressurreição de Nova Jerusalém. Óbvio, a topografia está ali o tempo todo, há eras geológicas. E eu, que geologicamente em breve partirei, quase não a percebo, estressado com calorias, horários, temas para colunas.
Saber que o Rio de Janeiro está logo aqui fora de mim e que, no entanto, de certa forma ele me é inacessível dá uma baita frustração, um tremendo sentimento de fragilidade e impotência. Penso em Marina cantando “as coisas não precisam de você”, penso em Sartre descrevendo, nauseado, a concretude indiferente de uma árvore. Aperto o passo, de raiva, a fim de deixar para trás o existencialismo e me conformar com a cegueira histérica.
Penso, ainda, que não é por outra razão que certos casais precisam se separar para descobrir que se amam de verdade. A beleza talvez só possa ser apreciada de longe, no espaço ou no tempo, como numa foto preto-e-branco de Marc Ferrez. Quem sabe eu precise pedir um tempo à proverbial Cidade Maravilhosa? Daí ter mencionado Dublin, um xodó. Feiosa, celta, letrada, quase sempre cinzenta, a capital da Irlanda seria a perfeita antípoda do Rio de Janeiro se também não fosse lar de um povo simpático, gentil e solidário.
Lá, talvez eu potencializasse minha dolorosa automedicação pela distância. Pílulas de Rio de Janeiro têm aumentado a angústia, até porque não domino os momentos de ministração . Forço a barra, peço para o táxi ir da Gávea em direção ao Centro pela orla, mas as praias, sobretudo em dias de mar baixo, acabam me recordando mais as mazelas que as belezas. Procuro bares e restaurantes às margens da Lagoa. Eles, porém, desaparecem.
A beleza, contudo, continua ali, eu sei. Ela surge, fugaz, meio como cena de passagem: o mar quando quebra na praia, o Hotel Marina quando acende, a noite quando cai sobre o Leblon. Parece coisa de novela do Manoel Carlos. Por falar no bairro-fetiche, experimente olhar à noite para o Morro Dois Irmãos, iluminado, da varanda do Jobi. Há boas chances de, mesmo sem álcool nas idéias, você entender o meu drama. Aquilo está ali desde sempre — o morro, não o bar — e nossos olhos blasés não o enxergam em sua glória.
Por isso, um dia, não agora, um dia, eu quero ir embora, para longe, muito longe, em quilômetros, clima e espírito, de modo que, antes dos meus finalmentes, eu possa enxergar o Rio de Janeiro como ele é, lindo, lindo, lindo, com os olhos dos que chegam ou dos que passam, não os olhos dos que apenas são ou estão, inconscientes de sua sorte. Na verdade, acho que todo carioca merece ter um bom dia de estrangeiro em sua cidade. Ou, ao menos, ser levado para vê-la de cima, do avião, e saber, afinal, por que a alma do Tom Jobim cantava. Quem sabe, um dia, a gente não consegue reaver o nosso olhar?
Um dia, meninas criadas, vida ganha, eu quero morar bem longe do Rio de Janeiro. Não só isso. Pretendo varrer a cidade da memória e da consciência, pretendo conservar somente uma pálida lembrança de como ela é. Então, outro dia, às vésperas de partir, quero voltar ao Rio de Janeiro e, olhos de gringo operados de catarata estética no auto-exílio de uma Dublin, descobrir, bestificado, o que perdi durante a maior parte da minha existência.
Há momentos em que meu olhar perdido entrevê o Rio de Janeiro. Apenas uma chispa de cidade, logo retirada de vista pela rotina, pela pressa e pelo medo. Só quem espera a morte já não se importa com nada, não tem nem compromissos nem temores. Daí meu sonho. Como o traficante de “Vivendo no limite”, que, espetado pelas costas na grade do topo de um arranha-céu de Nova York, diz ao paramédico: “Adoro esta cidade.”
Ou como um dos casos narrados no próximo livro de Drauzio Varella, do qual o autor leu trechos na Festa Literária Internacional de Paraty. O tema não é leve: pacientes terminais e sua relação com o inevitável. Um deles, muito mal, pergunta ao doutor se aquela será a última vez que irá para o hospital. O médico tem de admitir que sim, talvez seja. O doente, então, dispensa a ambulância: “Vamos de carro, que o dia está bonito.”
Passei pela porta do Maracanã pouco antes do início do último Fla-Flu. O dia estava bonito. Fazia sol e frio, combinação rara por estas bandas. A luz começava a cair, conforme as pessoas, não muitas, vestindo vermelho-e-preto ou verde-vermelho-e-branco acorriam ao Maior do Mundo. Ali, rapidamente, eu pude ver a beleza do Rio de Janeiro. Senti uma espécie de ternura por aquela gente, com quem compartilho a paixão, não o seu objeto.
Mais freqüente é ter uma epifania geográfica no Aterro do Flamengo, onde caminho com alguma regularidade. De vez em quando, por entre o suor e a endorfina, aparecem a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, a Urca, Niterói, as serras nos dias claros, o Corcovado e seu Cristo envolto em nuvens, como na ressurreição de Nova Jerusalém. Óbvio, a topografia está ali o tempo todo, há eras geológicas. E eu, que geologicamente em breve partirei, quase não a percebo, estressado com calorias, horários, temas para colunas.
Saber que o Rio de Janeiro está logo aqui fora de mim e que, no entanto, de certa forma ele me é inacessível dá uma baita frustração, um tremendo sentimento de fragilidade e impotência. Penso em Marina cantando “as coisas não precisam de você”, penso em Sartre descrevendo, nauseado, a concretude indiferente de uma árvore. Aperto o passo, de raiva, a fim de deixar para trás o existencialismo e me conformar com a cegueira histérica.
Penso, ainda, que não é por outra razão que certos casais precisam se separar para descobrir que se amam de verdade. A beleza talvez só possa ser apreciada de longe, no espaço ou no tempo, como numa foto preto-e-branco de Marc Ferrez. Quem sabe eu precise pedir um tempo à proverbial Cidade Maravilhosa? Daí ter mencionado Dublin, um xodó. Feiosa, celta, letrada, quase sempre cinzenta, a capital da Irlanda seria a perfeita antípoda do Rio de Janeiro se também não fosse lar de um povo simpático, gentil e solidário.
Lá, talvez eu potencializasse minha dolorosa automedicação pela distância. Pílulas de Rio de Janeiro têm aumentado a angústia, até porque não domino os momentos de ministração . Forço a barra, peço para o táxi ir da Gávea em direção ao Centro pela orla, mas as praias, sobretudo em dias de mar baixo, acabam me recordando mais as mazelas que as belezas. Procuro bares e restaurantes às margens da Lagoa. Eles, porém, desaparecem.
A beleza, contudo, continua ali, eu sei. Ela surge, fugaz, meio como cena de passagem: o mar quando quebra na praia, o Hotel Marina quando acende, a noite quando cai sobre o Leblon. Parece coisa de novela do Manoel Carlos. Por falar no bairro-fetiche, experimente olhar à noite para o Morro Dois Irmãos, iluminado, da varanda do Jobi. Há boas chances de, mesmo sem álcool nas idéias, você entender o meu drama. Aquilo está ali desde sempre — o morro, não o bar — e nossos olhos blasés não o enxergam em sua glória.
Por isso, um dia, não agora, um dia, eu quero ir embora, para longe, muito longe, em quilômetros, clima e espírito, de modo que, antes dos meus finalmentes, eu possa enxergar o Rio de Janeiro como ele é, lindo, lindo, lindo, com os olhos dos que chegam ou dos que passam, não os olhos dos que apenas são ou estão, inconscientes de sua sorte. Na verdade, acho que todo carioca merece ter um bom dia de estrangeiro em sua cidade. Ou, ao menos, ser levado para vê-la de cima, do avião, e saber, afinal, por que a alma do Tom Jobim cantava. Quem sabe, um dia, a gente não consegue reaver o nosso olhar?
quarta-feira, agosto 27, 2003
A gente se acostuma a tudo. Se acostuma a mudar de lar, a sair daquela aconchegante casa que lembra os melhores dias da nossa infância e ir para um apartamento cinza e frio e longe. Se acostuma a viver apertado para pagar a faculdade e, quando se forma, se acostuma a não arrumar emprego e a aceitar qualquer porcaria em troca de uma merreca no final do mês para pagar as contas. Se acostuma com as pessoas que te olham de cara feia sem motivo, a viver dusputando migalhas e atenção com os irmãos, e até a sentir dor. Se acostuma a levar tombos, ao próprio jeito estabanado e esquecido. Se acostuma a perder um grande amor, aprende a viver sem ele, mesmo sentindo um vazio eterno dentro do peito. A gente se acostuma ao vazio, e ao frio gelado do sul, e ao calor intenso do norte. Se acostuma a fingir que não viu e que não ouviu, se acostuma a correr do carro, pra pegar o ônibus e pra fugir da barata. Se acostuma a perder pessoas que morrem de uma hora pra outra de forma trágica, ou lentamente de doença. Se acostuma a ir ao correio, depois se acostuma a ler emails e a deletar os spans. Se acostuma ao telefone que não toca quando estamos ansiosos, ou ao barulho infernal dele quando precisamos dormir. Acostumamos a acordar cedo para trabalhar, a dormir tarde para estudar e a passar horas presos em engarrafamentos. A gente se acostuma a tudo, e eu não queria, não devia...
(ouvindo Dandy Warhols - Welcome to the monkey house (e não é que é bom mesmo?))
(ouvindo Dandy Warhols - Welcome to the monkey house (e não é que é bom mesmo?))
... e eu achei aquele tubinho de fazer bolinhas de sabão. É antigo, de um Reveillón até bem legal, eu, Malu e Jean, trêbados, na Casa da Matriz. Lembro que era a virada para 2001, porque tocou a música, e eu quebrei uma taça na parede e dancei, dancei... Aliás, Malu... nem lembrava, eu estive com ela depois da tempestade, sobrevivemos aquilo tudo e nunca mais nos vimos. Uma vez me disseram que passar a virada do ano com alguém era sinal de que você estaria junto o resto do ano com a pessoa. Comigo não funciona, ou talvez, arrisco dizer que é o contrário... (...) bem, e as poucas bolinhas que se salvam grades afora precisam driblar as gotas de chuva, e vão voando, voando, tentando sobreviver e ir pra longe. Daí eu começo a pensar, mas o sono não me permite concluir nada, só observar. Talvez seja o melhor a fazer, pensar menos, olhar mais. E as bolinhas vão voando...
terça-feira, agosto 26, 2003
Hummm... o que tenho pra dizer? Me sinto tão vazia de idéias... Basta o tempo mudar para um revertério tomar conta de mim também. Adoro frio, adoro chuva, não gosto do calor e do sol, no máximo pra observar de longe, na sombra, tomando água de côco. Mas esse tempinho me traz uma droga de uma carência, uma vontade de um alguém que agora, infelizmente, se tornou específico demais. Saudade dos tempos em que rapidinho eu dava a volta por cima, ou quando conseguia me encantar por outras pessoas. Agora os pensamentos estão lá com ele, que neeeem se toca, nem sabe (ou finge que não sabe). Podia e devia ser mais fácil, porque cansei desse negócio do mundo só dar valor ao que não é tão fácil e não tão acessível. Enfim, não posso fazer mais nada, cabe a Deus, ao destino, sei lá, resolver essa coisa na cabeça dos outros.
Que mais? Ontem faltou luz, e é triste quando não tem luz, sou tão dependente dessas coisas todas elétricas, que não penso em nada além de dormir quando a energia acaba.
Ah, e eu falo demais... Tava falando pra Helena que tinha medo da passagem subterrânea. Ela comentou se era medo de fantasma, eu disse que era medo dos vivos mesmo. E daí veio um, e levou dez real e um vale transporte de duas duras. E foi gentil, disse que não ia levar o celular pra não atrasar o nosso lado. Uma graça, não?
Que mais? Ontem faltou luz, e é triste quando não tem luz, sou tão dependente dessas coisas todas elétricas, que não penso em nada além de dormir quando a energia acaba.
Ah, e eu falo demais... Tava falando pra Helena que tinha medo da passagem subterrânea. Ela comentou se era medo de fantasma, eu disse que era medo dos vivos mesmo. E daí veio um, e levou dez real e um vale transporte de duas duras. E foi gentil, disse que não ia levar o celular pra não atrasar o nosso lado. Uma graça, não?
domingo, agosto 24, 2003
Eu tinha esquecido como as vezes você me faz me sentir uma tola, falando demais e você ali imóvel, me olhando. E como quem não ouviu nada, me beija.
A caipirinha agrava minha insegurança e as palavras saem sem controle da minha boca, nem sei se as idéias fazem tanto sentido, elas se perdem no ar... E hoje é você que nada fala, só ri e concorda. Somos todos uns tolos, eu sei.
A caipirinha agrava minha insegurança e as palavras saem sem controle da minha boca, nem sei se as idéias fazem tanto sentido, elas se perdem no ar... E hoje é você que nada fala, só ri e concorda. Somos todos uns tolos, eu sei.
Não deve ser por acaso, não pode ser. Dois "acertos de contas" depois de tantos anos... Acho um privilégio o meu não ter precisado nem ter ido atrás, ter recebido ambos assim de lambuja. E o mais curioso é que os dois vêm da mesma época, e acabaram me remetendo àqueles anos por alguns momentos. E foi bom pacas te encontrar hoje, na mesma mesa do mesmo bar. E você nem lembrava de detalhes, mas eu nunca esqueci. E lembro da carta de 3 dias depois, e da música, ah, a música que eu nunca deixei de cantar... Foi só um mês, e parece que foi uma vida, porque foram tantos momentos, tantas alegrias, tantos carinhos e tanto amor, que trinta dias não parecem ser capazes de produzir tanto. E eu dei fim naquilo, parece que pra ficar com esse gosto que tem hoje, de festa que acabou no auge. Talvez hoje tivesse gosto de ressaca se durasse mais. Eu até te indaguei quanto a isso, mas eu não sei, você não sabe, não dá pra saber. Só que tanta coisa teria sido diferente... E hoje foi tudo igual, como nos melhores dias, que foram todos os que estivemos juntos. Até a sua casa ainda é a mesma, o cheiro, o jeito, tudo. E eu não sei o que sinto, não sei se quero, não sei se devo querer mais. E independente do que vai ser daqui por diante, pelo menos pudemos ter, juntos, um pouco da alegria que faltava e que ficou contida por quase 5 anos.
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