Às vezes eu sinto uma saudade estranha do passado, saudade de coisas boas e de outras nem tanto, sinto falta de pessoas que tiveram passagem relâmpago pelo meu filme, pela minha vida. E de outras que ficaram por muito tempo e mesmo assim se foram, algumas vezes até sem se despedir. E eu detesto quando as pessoas não dão nem um tchau sequer. Tenho um sério problema em cortar o cordão imaginário, porém não menos vinculador, que me liga a cada criatura que aparece. Com alguns eu mesma trato de me desvencilhar, mas basta a coisa se complicar que o vínculo está formado.
E eu começo a assistir o tal filme, e vai dando um certo aperto. Sinto saudades de um alguém que estava comigo naquele show, ou naquele outro dia na escola. Saudade de um beijo, saudade de um filme, saudade até do dia do fora, porque se ao lembrar da dor posso senti-la, também me recordo o quão prazeroso foi antes dele.
Acho que eu sou doente.
Mas também sinto saudades daquele dia que nós discutimos sobre o horário que íamos sair. Um amigo acaba de me dizer que sentir tanta nostalgia é perigoso, mas não me explicou o porquê. E também, ele falava dele. "Eu não posso causar mal nenhum a não ser a mim mesma". E o vínculo com o passado é vicioso e irressistível, sabendo que o futuro está sempre adiante e é uma incógnita, mesmo que charmosa por ser uma surpresa. Prefiro ele, o passado, que não me deixa ansiosa por não saber o que está por vir. Dele eu sei tudo, e posso descobrir cada vez mais. A única que consegue me atrapalhar nessas viagens é a minha memória, mas fazendo um pouco de força as imagens vão se formando, vão surgindo em minha mente.
A saudade vem do nada e, ainda bem, se vai da mesma forma. As vezes ela aparece numa tarde, num passeio no shopping, quando alguém passa por mim e tem o seu cheiro. Ou quando aquela música toca no rádio do taxi que eu pego, atrasadíssima, indo pra uma entrevista de emprego.
Dessa vez a culpa é desse CD, é do Bernard Butler que repete com tanta ênfase "'cos I'm not alone, these days". Porque eu estou aqui sozinha, e seu nome pisca no icq. Mesmo que só aqui na minha cabeça, só pra mim. E essa semana é o lançamento do seu livro, o livro que você escreveu enquanto ainda estávamos juntos. E eu não vou viajar com você. Nem sequer fui convidada, mesmo que por educação. Mas também, eu não quero sua educação. Não é isso o que eu quero de você.
Eu só quero um colo que me dê um cafuné, mesmo que só uma vez, a última vez. Pode ser ali, no seu sofá, vendo um daqueles filmes chatos antigos em P&B, que você tanto adora. Eu finjo que vejo enquanto adormeço no seu colo.
segunda-feira, agosto 19, 2002
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