No Rio Fanzine de hoje (muito legal):
Malhação punk
(Carlos Albuquerque)
Overão vem aí e você, lépido fanzineiro, quer ficar em forma para fugir dos arrastões. Você também quer ter bastante fôlego para quando rolar o boato de que os traficantes mandaram as pessoas pararem de respirar. Mas como queimar aquelas cervejas que desceram macias no meio da noite e aqueles salgadinhos que foram devorados na larica da madrugada?
Como, paizinho do céu, ficar saradão se você tem horrendos pesadelos imaginando-se no meio de uma aula de lambaeróbica, ao som do Chiclete com Banana, remexendo o popozão, com o dedinho indicador na boca e gritando “Aê, aê, aô, ô, ô, aê, uô, uô”?
Acalmai-vos, crianças alternativas. Nem tudo está perdido na terra de Little Rose e Little Boy. Esqueça o ABtronics. A salvação para o seu corpo existe! E seu nome é PRA.
A sigla significa punk rock aerobics, aeróbica punk, e é o último grito primal em matéria de preparação física. Como indica o nome, trata-se de uma aula de ginástica nada convencional, ministrada ao som de punk rock e que, no lugar de pesos, utiliza tijolos. Isso mesmo, tijolos.
A parada foi criada por duas maluquetes de Boston — Hilken Mancini e Maura Jasper — já se espalhou por Nova York e, se Deus e Joey Ramone quiserem, vai tomar conta do mundo.
— Tivemos a idéia após uma conversa de bar — conta Mancini ao RF. — Estávamos ouvindo Buzzcocks e pensando como seria legal se pudéssemos fazer ginástica ao som de punk rock. No dia seguinte, passada a ressaca, começamos a correr atrás disso.
E correram mesmo. O passado não as condenava. Mancini tem uma banda, a Fuzz, na qual canta e toca guitarra. Ela também estudou dança. Jasper é desenhista e fazia capas de disco. Mas, em determinado momento, viram-se desempregadas e, tal e qual os Sex Pistols, sem futuro, “no fuuuuuture”. Daí para o PRA foi um passo. Ou melhor, vários passinhos.
Mancini levou a idéia ao Aerobics and Fitness Association of America e rapidamente conseguiu o certificado para dar aulas:
— Não disse que era aeróbica punk. E eles nem quiseram saber. Então, ficou tudo bem.
Feito isso, a dupla começou a juntar músicas — Ramones, Pistols e pioneiros do barulho como Who e Iggy Pop — para a trilha sonora. Movimentos foram copiados livremente, tanto da famosa rodada de braço de Pete Townshend como de áreas nem tão punks assim, como as danças de John Travolta em “Grease”.
— O que queríamos era criar uma aula em que as pessoas se divertissem e não levassem as coisas tão a sério — diz ela.
E assim foi. Depois dos primeiros testes, a aula inaugural, em abril do ano passado, atraiu cerca de dez alunos. Cada um pagou US$ 7 pela malhação punk.
— Cheguei a pensar em emoldurar meus primeiros dólares como professora de aeróbica punk — garante ela.
Daí em diante, a coisa pegou. Mais alunos começaram a aparecer nas aulas, todos atraídos pela estética punk dos exercícios, contados sempre a partir do “um, dois, três” e nada mais.
— Nossas aulas ficam cheias de pessoas que não gostam de academias tradicionais nem dos modelos de beleza divulgados por elas — diz Mancini. — Temos alunos gordos, magros e até com cabelo moicano (risos).
E quanto aos tijolos?
— Não tínhamos dinheiro para comprar equipamentos caros. Por isso, usamos os tijolos. Eles têm a mesma função dos pesos e são mais baratos — diz Mancini, que costuma sair para beber com os alunos após as aulas.
No verão (americano), a dupla também deu aulas em Nova York, em local mais do que apropriado, o lendário clube CBGB. Alguns astros do rock alternativo, como Jay Mascis (do Dinosaur Jr) e Evan Dando (do Lemonheads), já participaram das aulas, tocando ao vivo para animar as coreografias. Um luxo punk só.
E esqueça Jane Fonda. Os próximos planos de Mancini e Jasper incluem um vídeo com os ensinamentos da aeróbica punk. Preparem os tijolos.
sexta-feira, outubro 25, 2002
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