O nosso amor não vai parar de rolar
De fugir e seguir como um rio
Como uma pedra que divide um rio
Me diga coisas bonitas
O nosso amor não vai olhar para trás
Desencantar, nem ser tema de livro
A vida inteira eu quis um verso simples
P'ra transformar o que eu digo
Rimas fáceis, calafrios
Fura o dedo, faz um pacto comigo
Num segundo o teu no meu
Por um segundo mais feliz
Uma vez eu fiz um pacto com alguém. Não lembro quem propôs, se fui eu ou ele, mas furamos o dedo, encostamos as pontas, trocamos o sangue e juramos fidelidade e lealdade eternas, sempre dizer a verdade. Ele morria de medo de furar o dedo, morria de medo de pegar alguma doença, mas fizemos mesmo assim. Eu lembro da gente no quarto da avó dele com a caixinha de costura na mão, esterelizando o alfinete com o isqueiro e segurando com a pinça. É algo tão infantil e singelo, é o tipo de romantismo idealizado e que eu sempre sonhei pra mim. Pena que essa coisa bonita toda é pura hipocrisia, a coisa desandou, claro que há mil explicações e justificativas, mas a dor e o sofrimento existiram, apesar da tentativa de amor e felicidade eternos que não foram fortes nem enquanto duraram.
Em doses homeopáticas, tenho lembrado a cada dia coisinhas daqueles dias, coisa que eu evitei fazer durante esses últimos anos e que se o fazia, era com a maior mágoa do mundo. Agora lembro com saudade, com doçura, como se lembra daquela pessoa com a qual tivemos um relacionamento conturbado mas que era deveras querida e que se foi sem dizer adeus. A sorte é que ninguém morreu, nem eu, nem ele, só nós dois, juntos. Dissemos adeus agora, tantos anos depois. E dá uma saudade, uma dorzinha que não dói tanto, mas que parece que não vai passar nunca. E não vai mesmo, ela fica sempre ali, guardada num cantinho pra não deixar esquecer como foram bons aqueles dias e como a gente aprendeu e sofreu e chorou e riu junto.
quinta-feira, julho 10, 2003
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