"Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto -
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúrioa única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenhovisto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa."
(Àlvaro de Campos - 12/09/35)
Comentários sobre o Fernando Pessoa lá no flog. Ah, e esse é um dos heterônimos do poeta português. E ele já disse, estou cansada. Cansada. Quer saber? Veja os últimos posts do flog. Bye.
sábado, novembro 29, 2003
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