terça-feira, novembro 05, 2002

VALE A PENA LER TUDO:

O amor deixa muito a desejar....

Fui ver o lindíssimo filme do Pedro Almodóvar, “Fale com ela”, e saí pensando num conto da Carson McCullers, onde um homem conta que, antes de amar de novo uma mulher, ele estava aprendendo a amar as pedras, as árvores, as nuvens... Nesse grande filme de Almodóvar, vemos amores raros, feitos de entrega, feitos de compaixão, como uma “doação ilimitada a uma completa ingratidão”, como escreveu Drummond, aliás, o poeta do amor impossível, que é o único e verdadeiro amor.

A vitória do Lula também foi uma fome de amor política contra a era da técnica racionalista. Seu governo pode virar até um crime passional ou um folhetim melodramático, mas, hoje, é um grande desejo de happy end para todo o povo. Por isso, pergunto: onde anda o amor? Até isso o mercado estragou?

Sim. O amor já teve um toque sagrado, a magia de uma inutilidade deliciosa, já foi um desafio ao dia-a-dia que nos tirava da vida comum. Hoje o amor, como tudo, está perdendo a transcendência. Não existe mais o amante definhando de solidão, nem romeus nem julietas, nem pactos de morte, não existe mais o amor nos levando para a uma galáxia remota, não existe mais a simbiose que nos transportava a uma eternidade semi-religiosa. O amor tinha uma fome de bondade, de compaixão pelo outro, de proteção à pessoa amada. Isso está acabando. O amor já foi analisado por todas as ciências, a psicanálise mapeou as loucuras que estão sob sua poética, o ritmo do tempo atual acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que “amamos”, temos medo de nos perder no amor e fracassar no mercado. O amor pode atrapalhar a produção.

Por isso, o filme de Almodovar é tão belo e oportuno. Temos de fazer filmes assim, cheios de amor, sem efeitos, sem denúncias. Se eu, um dia, filmar de novo vai ser para celebrar o silêncio dos amantes ou a beleza do inútil. O amor perdeu a gratuidade, as pessoas “amam” por desejo de ter um amor que não sentem mais. O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo “outro”. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de “olhos de ressaca”, nem nas “pernas de Fulana”, nem temos as bocas beijadas por amantes tutti tremanti , nem o formicida com guaraná. Não se diz mais: “Deus sabe quanto amei!...”, mas “Deus nem sabe quantos(as) amei...”

A publicidade devastou o amor, falando na “gasolina que eu amo” (“Shell que j’aime”), no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir. Como comer todas as moças da lingerie e do xampu, como atingir um orgasmo pleno e definitivo? A sexualidade total, por si só, levaria a uma assexualização desértica. A sexualidade é finita, não há mais o que inventar. Já o amor, não... O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza — mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes.

Mas, hoje, o mercado exige a satisfação total no amor ou o dinheiro de volta. Como isso é impossível, deriva para o sexo ou a para sedução. O amor passa a buscar não mais uma entrega, mas um domínio. O amor vira um objeto de consumo, fast love , com obsolescência programada para durar pouco. O amor deixa muito a desejar. Em geral, o amor existe hoje como uma espécie de adoçante para justificar, legitimar uma tesão ou uma conquista. Os amores duram três edições de “Caras”. Os casais se permutam num troca-troca rápido e quantitativo. As próprias mulheres estão virando “D. Juans”. Vejam o périplo de jovens atrizes que vão comendo, um por um, os modelos que surgem nas revistas, elas, que deviam se manter damas inatingíveis para pálidos quixotes românticos.

Estamos com fome de amor cortês, num mundo em que tudo perdeu aura. O terrível bombardeio que a cultura americana está fazendo nos sentimentos é invisível, mas é pior que as bombas contra o Iraque. A cultura americana está criando um “desencantamento” insuportável na vida social. Tudo é tolerável, num arrasamento de mistérios. Vejam a arte tratada como algo desnecessário, sem lugar, sem uso, vejam as mulheres amontoadas na internet, nuas, com números — basta clicar e chamar. Estamos com fome de infinito em tudo, na vida, na política, no sexo. Por isso, o filme de Almodovar, cheio de compaixão sussurrada, apoiada na trêmula beleza dos balés de Pina Bausch e no Caetano cantando um pranto dolorido, parece um segredo religioso, uma saudade inexplicável de alguma coisa que existe “aquém”, antes da vida.

Nos anos 60, liberdade sexual foi uma questão polÍtica. Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacas, sem escândalos, desde que não prejudique a produção. Mas o que invisivelmente está virando uma nova necessidade política é o amor e seus subprodutos: compaixão, paz, justiça.

Aposto que virá aí um novo desbunde, um novo movimento hippie, sem utilidade, mas sem melancolia autodestrutiva, vêm aí marchas pelo amor, porque ninguém está agüentando mais somente “utilidade” e “desempenho”, poder e sucesso. Estamos virando coisas. Precisamos aprender a amar de novo as pedras, as árvores, as nuvens, até chegarmos a nós mesmos... E acho que isso vai surgir na América, como foi nos anos 60 — a luta pelos direitos civis será agora a luta pela beleza da inutilidade.

(Arnaldo Jabor, in Segundo Caderno do Grobo de hoje)

segunda-feira, novembro 04, 2002

Foda, foda,foda. Simplesmente foda.

Produção promete nomes como Radiohead, Strokes e White Stripes
Curitiba prepara megafestival

Nem Free Jazz. Nem Rock in Rio. Nem tão longe demais das capitais, Curitiba promete tornar-se a meca da música pop durante três dias daqui a menos de quatro meses.
O Curitiba Pop Festival será realizado de 1º a 3 de março de 2003 e pretende trazer as principais bandas de rock do mundo, numa estrutura parecida com a do Reading Festival, na Inglaterra.
Serão 18 bandas internacionais e nove nacionais. Segundo a organização, a produção do festival já está em negociações bem encaminhadas com bandas do primeiro time, como Strokes e White Stripes, e com duas das mais criativas e importantes do cenário independente, a americana Wilco e a escocesa Idlewild. Além dessas, outras 23 estão em fase de conversação, entre elas Radiohead, Foo Fighters, Hives e Vines.
No time nacional, serão escalados os principais representantes do mainstream nacional, como o Capital Inicial. A organização também está estudando uma maneira de incluir na escalação nacional bandas independentes de todos os Estados.
O Curitiba Pop Festival dará início a uma série de eventos preparados pela Fundação Cultural em 2003. A cada quatro meses, dois grandes eventos culturais serão realizados na cidade durante o próximo ano.
Tudo isso porque Curitiba foi eleita a Capital Americana de Cultura e, além do Pop Festival, também promoverá eventos na área de cinema, teatro, artes plásticas e será sede de uma Bienal de Fotografia no segundo semestre. Os eventos, através do Comitê das Capitais Culturais, sediado em Barcelona, na Espanha, recebem o apoio de entidades como a OEA (Organização dos Estados Americanos) e a Unesco.
Por contar com esse suporte é que a organização do Pop Festival garante que o evento acontecerá na data programada, mesmo se a cotação do dólar em relação ao real se mantiver alta. Se algumas das bandas pretendidas não desembarcar por aqui no ano que vem, será apenas por incompatibilidade de agenda.
O provável local do festival será as ruas do bairro Rebouças, que abrigará quatro tendas, com quatro espaços diferentes em quatro quadras. Um parque mais afastado da cidade também será analisado. Até dezembro, a organização do Pop Festival pretende divulgar a lista com todas as atrações confirmadas
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(ALEXANDRE PETILLO
FREE-LANCE PARA A FOLHA)
This is my new blogchalk:
Brazil, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Tijuca, Portuguese, English, Juliana, Female, 21-25, music, photography. :)