quinta-feira, abril 17, 2003

A brisa do final da tarde é gostosa, mexe os cabelos com leveza, dá uma sensação de frescor deliciosa, que contrasta com o calor do resto do ano e mesmo com o sol quente desses dias de outono. Observo as pessoas a volta, sempre correndo, sempre com pressa, jogam a gente longe se nos distraímos. Nessa época do ano todos arrumam motivos para se esbarrarem, trocam cotoveladas numa disputa por caixas de bombons e ovos de chocolate. E depois, vão todos felizes para casa.
A barca balança mais que de costume e ainda falta um pouco para encher, apesar da multidão que se apressa em arrumar algum lugar para sentar. Pego um livro para ler, mas minha atenção se desvia para os rostos e corpos presentes. O que será que pensam e sentem? Pra quem será o chocolate da sacola, provavelmente conquistado numa disputa ferrenha?
Hoje as pessoas parecem mais delicadas, todas pedem desculpas, agradecem e são gentis, comentando as casualidades do dia-a-dia sorrindo. Sorrio de volta, reparando o rapaz com o pacote de fraldas debaixo do braço que é sutilmente convidado a se retirar, como se preto e pobre não tivesse as mesmas necessidades que outros tidos de sorte maior. E aquelas pessoas seguem em frente, como se nada tivesse acontecido. E eu sigo em frente, um tanto quanto incomodada, mas também não faço nada quanto a indiferença alheia. Termino igual a eles, indiferente, pelo menos aparentemente. Idiota.

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