segunda-feira, março 27, 2006


Tenho pensado muito e escrito pouco, como nunca antes na minha vida. As idéias são tantas e estão tão amontoadas que não sei se conseguirei passar pro "papel" exatamente o que sinto e penso, em tão pouco tempo que me resta do almoço...

Mudarei o lêiauti assim que tiver tempo, e pretendo voltar a escrever esporadicamente, mais vezes que nos últimos dois anos, deixando pra esse canto o que andava sendo escrito no flog. Não lembro mais a tag de fotos, nem muito menos aonde eu as hospedava, então, por enquanto, nada de fotos por aqui.

Em 28 anos de vida já vivi tanta coisa que daria um livro. Não tenho a pretensão de escrever um, nem acho que sou tão importante e significante para tal, não acho que atrairia muitos leitores, a não ser pelo meu dom de ironizar e dramatizar ainda mais os fatos, o que faz todos rirem. Seria divertido pelo menos.

Detesto quem se refere a si próprio em terceira pessoa, mas a Juliana que eu vejo de vinte e tantos anos atrás não parece ser a mesma que vos escreve nesse exato momento. Eu era confusa, não entendia o que eu era, porque estava aqui, qual o sentido das coisas. Lembro de passagens da vida ela, da Juliana, de fotos, lembro da saudade do pai quando viajava a trabalho, lembro dos ensinamentos da mãe sobre os fatos ocorridos, lembro das conversas, das músicas favoritas em comum, dos shows, dos passeios, da montanha russa do Tivoli Park no domingo. Lembro também das
coisas ruins, dos tantos problemas que tivemos, das depressões brabas dele, da morte inesperada pelo motivo que eu sempre soube mas custaram a me contar. Logo pra mim, a única que sabia da verdade desde sempre, desde pequena, a amiga, cúmplice, que ouvia e absorvia, que protegia a mãe e os irmãos mais novos, mesmo sendo uma criança. Tive que virar adulta e ter maturidade quando ainda brincava de Barbie, tive que ser testemunha de coisas feias e nem podia chorar. Aliás, tenho trauma de não poder chorar em momentos de dor, de me questionarem o porquê das lágrimas. Hoje choro mesmo, e não me importo com quem se incomodar.

Passamos muita dor, muita dificuldade, muita falta de grana, muitas privações, quase sendo expulsos da escola, mas permanecendo lá por complacência do diretor. Lembro do dia que caí na educação física e meu joelho jorrava sangue, e mesmo assim tive que voltar andando pra casa, que era um tanto quanto longe, por não ter nem um centavo pro ônibus. Lembro de quase faltar tudo, e no fim das contas, na hora "h", Deus mandar ajuda. Lembro de todos os que ajudaram, e lembro também de quem virou as costas quando não tínhamos mais quase nada, e lembro também de quem voltou quando achou que tínhamos algo. Lembro das descobertas de mais coisas feias em família, da
briga feia, da maldade que resultou no ultimato, e lembro do mais importante: do apoio, da força, da amizade e do carinho que a minha mãe sempre nos deu e teve pra si própria, que nos mantinha de pé. Lembro dela me mandar pra SP, pra casa dos amigos no dia que ele se foi, lembro da garra dela em resolver tudo e nos poupar. Agradeço a Deus a mãe que tenho, a pessoa mais inteligente, auto-didata, forte e engraçada do mundo. Sempre moramos numa casa grande e confortável em bairro de classe alta, sempre pudemos ter tudo mas nada nunca foi tão simples e fácil, as dificuldades eram muitas. E nunca fui deslumbrada com coisas materiais, pelo contrário, os outros o eram por mim. Mudei de casa várias vezes, mudei de padrão e de classe financeira mas nunca me incomodou tanto, as perdas materiais nunca foram extremamente dolorosas, a não ser quando se têm reais dificuldades. Mas sempre conseguimos vencer, superar, e tento ver como um todo a situação, como o
real aprendizado oferecido por Deus. Talvez por isso eu trabalha tanto, batalhe tanto e anseie tanto por uma vida melhor vinda do meu próprio esforço. Aprendi isso com meu pai, a não depender de ninguém por nada, a contar comigo mesma sempre que possível.

Lembro de ser CDF e nerd na escola, e ser maltratada por isso. Lembro de não ser popular, e de só no segundo grau passar a ter mais amigos na escola e no prédio. Os nerds viram pessoas bacanas quando se cresce um pouco, engraçado isso. Sempre fui muito, muito tímida, tinha medo e vergonha de me aproximar. Acho que por conta disso, me forcei a falar e comecei a fazer palhaçada com tudo e todos, uma boa válvula de escape da timidez. As pessoas passaram a rir de mim e comigo, e
comecei a fazer amigos de fato.

Procuro não lamentar jamais cada um desses episódios difíceis. Reclamo, faço drama, choro, mas é tudo brincadeira, porque sempre tento ver o lado bom das coisas e não deixar resquícios de dor por causa do sofrimento. Procuro ser mais, maior, melhor, tirar proveito disso. Sempre disse aos amigos desiludidos pra não ficarem traumatizados com a dor e desistirem de lutar e de correr atrás do que desejam. Pelo contrário, a dor tem que dar força pra levantarmos e sermos fortes. Nada cai do céu, tudo depende da vontade de Deus, mas a nossa força de vontade é primordial. Já quase caí em depressão algumas vezes, já chorei e desanimei por falta de reconhecimento, por levar a fama sem tirar proveito, como diz a minha mãe, por ser pré-julgada e condenada por coisas que não fiz e foram distorcidas. Não sei deixar pra lá esse tipo de coisa, mas realmente preciso aprender a ignorar e ser maior. E volto atrás, se preciso, e perdôo, esqueço, dou chance. Porque u também preciso disso, de perdão, de desculpas, de tolerância, de segundas chances.

Nunca imitei ninguém, nunca quis ser igual, muito pelo contrário. Sou aquariana, a queridinha do papai, a menininha que sempre falou corretamente, sempre quis saber o que era tudo, sempre quis aprender e estudar, que mandava cartas pros jornalistas, ia nas redações e ficava amiga. Eu era a menina que inventava modelos pra roupas de Barbie, já que não havia pra vender em lojas, e vendia pras amiguinhas da escola, que adoravam. Eu costurava a mão almofadinhas, e minha mãe fazia o resto na máquina. Eu desenhava plantas de apartamentos ficticios dos meus sonhos, escrevia milhares de redações sobre tudo e todos, desenhava meus personagens favoritos e colava na parede
do quarto. Mais tarde, inventava modelos de roupas e dava pra minha mãe fazer pra mim, inventava bolsas, cortes e cores esquisitos de cabelos. Sempre foi engraçado ouvir os amigos perguntando "com que cara vc está agora? Será que te reconhecerei?". Nunca fui padrão, nem quis ser. Como meu instrutor querido da auto-escola disse, não sou manequim de loja, igual, em série. Ser único é melhor, mas também mais trabalhoso. Há preconceito e pré-julgamentos pela aparência. Por exemplo, sempre acham que sou junkie e drogada por causa do cabelo, das tatuagens e piercings. Daí basta conhecer pra ver que na verdade sou a menina tímida, carinhosa, boazinha, careta e super correta com tudo. Sim, tenho um milhão de defeitos, e minha consciência pesa por cada um deles. Me culpo mesmo sabendo que a grande maioria deles é sem querer. Tento não mentir, não enganar, não fazer nenhuma espécie de mal pra nada nem ninguém. Tento não julgar quem não conheço, procuro não ficar
falando mal gratuitamente das pessoas, respeitar, porque imagino como falam e pensam de mim, injustamente. Não podemos agradar a gregos e troianos, mas tento mostrar pra quem não me conhece ou não gosta de mim que sou bacana, e tento dar uma chance a quem eu não simpatize muito, porque com certeza esses têm muitas qualidades e podem sim vir a se tornar amigos. Seria bom que não existissem tantas picuinhas e todas as pessoas pudessem esquecer pendengas passadas e dar as mãos, em paz.

Não acho que todos esses problemas, brigas, implicâncias, afrontas, e quaisquer coisas gratuitas sejam somente inveja. Pode até ser em alguns casos, pode até ter uma pitada de inveja, mas a raiva e a antipatia humana é gratuita em tantos casos! Por isso prefiro ser ingênua e confiar no que as pessoas me dizem e dar uma chance a todos, sempre, que manter sentimentos ruins e levar isso pra outras vidas. Quero abstrair e resolver tudo aqui, agora. E perdoar, se é que eu tenho esse poder. Acho que todo mundo pode ser legal, e pode se arrepender e mudar. Não acho que eu seja invejável, eu somente tento ser forte sozinha, tento construir sem depender dos outros, mesmo sabendo que não vivo sozinha. Tento levantar mesmo antes de cair, não me permito ficar no chão por muito tempo. Tenho amigos lindos que me acordam pra ir pra aula, que me apoiam muito quando estou caindo, que me dão a mão nos momentos de dor. Graças a eles, levantei, arrumei trabalho, tive força pra viver sozinha e me preparar pra ter de volta meu amor maior, o amor dessa vida e talvez de outras tantas. Não tive dinheiro para ir a médicos, tomar remédios. Não tive mão na cabeça nem muito colo. Tive esporros e empurrões, que me ajudaram muito. Na hora da
fraqueza, do choro e da dor, tive uma força maior que vinha de dentro e dizia que tudo se resolveria logo, que o vazio era comum aos dois, que aprenderiamos muito e preparados, poderíamos então nos unir novamente. Lamento de coração a dor de terceiros, porque sei como ela é latente e forte, como consome e machuca. Lamento apesar de ninguém em momento algum ter lamentado a minha dor. O espiritismo foi vital, me mostrou que seria o que tivesse que ser, ficando juntos ou não. Que o melhor aconteceria, inevitavelmente. Me mostrou que eu sou forte e capaz, me fez entrar de cara no trabalho, fazer bons textos e arrumar o estágio, me fez cativar tantas pessoas em tão pouco tempo em tantos lugares.

Aparência e corpo físico são meros detalhes, até porque são passageiros nessa vida mesmo, ou quando a gente morre, e apodrece rapidinho. A meu ver, pessoas são belas quando são boas. Não consigo achar feio alguém querido, é que nem pai e mãe, que são sempre lindos pros filhos. Claro que eu detestava ter o rosto coberto de espinhas e fico feliz quando dizem que tenho pele de pêssego. Já fiz um milhão de dietas, mas hoje desgrilei um pouco dos quilos extras (apesar de ficar feliz quando reparam que emagreci), adoro comprar e inventar roupas, cuidar do cabelo, fazer tatuagens e colocar piercings. Mero adorno, ok, mas é uma brincadeira divertidinha. Sempre
fui assim, furei sozinha a orelha ainda pirralha, coloquei alfinetes no topo da orelha, onde colocam piercings hoje, quando isso nem sonhava ser popular. Quase perdi a orelha e dizia que seria "Van Gogh", rs, mas terminei arrancando os alfinetes com alicate. Comecei a me tatuar e a me soltar mais quando me livrei da criatura mais dolorosa que passou pelos meus poucos anos de vida. Um ser que me depreciava e me diminuía, e contribuía com minha baixa auto-estima, tão melhor nos dias de hoje, mas ainda longe de ser 100%. Resolvi ser eu, usar meu cabelo curto mesmo, vermelho mesmo, ter minhas tattoos e milhares de brincos e roupas esquisitas, tudo o que eu era antes dele, tudo que é da minha essência. O alívio foi imediato, maior que a dor da falta, da perda. Pude voltar a ser eu mesma, pude ser mais eu que nunca. Vendo fotos antigas, consigo finalmente me reconhecer, pelo mesmo sorriso, mesmos gostos, a melissinha e a camisa de bonequinha, o cabelo curto, a falta de noção, as palhaçadas, a língua de fora.rebeldia, que na verdade nada mais é que personalidade.

Eu sempre fui o tipo de pessoa que chora com as lágrias alheias, que sofre com a dor alheia, que se incomoda quando o outro não está bem, que se incomoda com a miséria e a fome. Eu sempre tive peso na consciência quando faço besteiras, quando minto ou cometo erros de forma lúcida. Eu não sei ficar bem e saber que alguém está mal, mesmo que seja alguém que me fez mal. Eu me arrependo, me culpo, eu me dobro com um pedido de desculpas ou com um sorriso. E acho que não quero ser diferente não, embora minha ingenuidade as vezes me faça de boba.

Ao mesmo tempo, sempre fui aquariana, cheia de vontades, geniosa, sempre arregacei as mãos e fiz, nunca esperei fazerem por mim. Não aceito injustiças, não concordo só pra agradar, digo não quando é preciso, quase sempre. As vezes realmente é difícil, mas não sou molenga, sei bem do que não gosto. Prefiro perder a ganhar por pura negligência minha, por não abrir a boca, por aceitar. Mas não desisto fácil das
coisas que quero fazer e ainda não fiz. Já me fudi muito acreditando, amando, buscando, mas isso é vida, é aprendizado. Melhor tentar e não conseguir que não tentar e não saber o que podia ter sido. Pelo menos tenho a sensação de ter feito a minha parte. Se erram comigo, tento não errar de volta. O lance é cada um fazer a sua parte, porque de grão em grão se muda o mundo. Toda dor dói na hora, deixa seuqelas, traumas, mas não me vingarei jamais. Que os outros errem, ok, mas eu não
vou retribuir, fazer igual. Minha consciência não permite. I'm a believer, nunca deixarei de acreditar e tentar e tentar. E fazer o bem, que deixa feliz quem recebe e passa a fazer o bem também, num ciclo feliz. Vou virar hippie, paz e amor a todos. Só não fumo maconha nem ouço reggae, pelamordedeus.



=)

Nenhum comentário: