domingo, janeiro 25, 2004

Dom de iludir

Com as coisas não declaradas e a dúvida maior que o mundo, eu escrevia como um grito, uma forma de escancarar tudo o que eu queria dizer e não tinha coragem. Daí, da forma mais simples e direta, falei. E ele também falou, e falou muito. E mais do que eu esperava, mais do que eu podia sequer imaginar. Não, as coisas não são perfeitas, não corremos pela praia nem demos um beijo apaixonado como em filmes piegas, não trocamos juras de amor e nem prometemos nada. Continua a dúvida, continua sendo esquisito. Aliás, o melhor é isso. Confesso que se não fosse assim, o encanto talvez fosse menor, seria menos atraente. Mas pelo menos eu sei que ele não é indiferente a mim, a mesma sensação esquisita que sempre existiu do lado de cá, paira do lado de lá. Não sei bem o que é, nem como é, mas é, e não adianta muito pensar e tentar entender. Só resta, como sempre, esperar, viver e ver (será?). E há a sensação que acalma, da certeza de que as coisas tomarão o seu rumo sem força, sem ânsia, com o tempo, maldito tempo. E nem me incomodo tanto, na verdade. Só hoje, só hoje, até porque foi hoje.

Falando de você. Nem temos muito a ver, ou temos tudo, depende. Gosto da sua voz, do jeito que você fala, das coisas, os assuntos, as palavras bem escolhidas, a risada. Gosto da nossa criancice, das briguinhas bobas e das fofuras de amigos. Sim, somos amigos, acima de tudo, antes de qualquer coisa. Mas tem isso, essa coisa esquisita e ininteligível, essa coisa que volta e meia me pega, e incomoda, me faz pensar, não deixa esquecer, distrair. Martela, faz pensar, ficar lembrando. Nada de amor, nada de paixão. Amigo, amigo sim, desses que a gente quer ter junto, gosta de falar e de ouvir. Amigo.
Confusão.