quinta-feira, junho 26, 2003

Da primeira vez que ela vem até consegue me dar um susto, pega de surpresa e dói uma dorzinha chaaaata, que parece que não vai passar nunca. Mas aí ela vai ficando, ficando, se instala de mala e cuia e a gente se acostuma a ela. E daí a tal da lembrança nem dói mais tanto assim. E então ela se cansa e vai embora. Mais cedo ou mais tarde ela vai, pode ter certeza.
O que me trai é o cheiro. Cheiro é foda. Você tá andando pela rua alegre e contente. Ok, talvez nem tanto. Mas tá pensando na conta de gás que venceu semana passada e vai na bolsa pegar os óculos porque o sol tá forte. De repente, aquele cheiro. Pode ser o perfume de alguém ou até o cheiro do sabonete, do shampoo, qualquer coisa, qualquer cheiro. E pronto, dá um puta aperto no peito e uma vontade de ficar quietinho e só ficar curtindo aquelas imagens que teimam em aparecer na nossa cabeça nas horas e lugares mais inesperados. E dá uma pontada no peito também, sempre dá, mesmo que não doa. Mas é incômodo, não te deixa confortável em canto algum. Acho que lembrança que vem por cheiros é ainda pior que a lembrança que chega sozinha, porque ela é mais viva, parece de carne e osso, além de trazer os detalhes da forma mais real possível. E não dá pra não sentir, não é tão fácil dispensar. Fica o dia todo martelando, quando também não tenta se instalar. E nem adianta tentar ler jornal ou ver novela pra esquecer, porque essa coisa fica ali, olhando pra vc. E eu tô disfarçando pra ver se eles vão embora...

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