quinta-feira, julho 26, 2007

Na Ilustrada de ontem, entrevista feita pelo amigo.

Mr. Punk
Criador do Sex Pistols e das polêmicas que deram impulso ao punk, o britânico Malcolm McLaren fala à Folha sobre os 30 anos de "Nevermind the Bollocks" e a atual "cultura de karaokê"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Gênio, farsa, artista original e rebelde, aproveitador do talento alheio -todos esses títulos já foram aplicados ao britânico Malcolm McLaren, 61, um ex-estudante de arte que abriu uma loja de roupas na década de 70 e, a partir dela, um buraco permanente na "cultura da mentira" que sua geração via no Reino Unido de então.
No ano em que sua principal criação, o Sex Pistols, celebram 30 anos do clássico "Nevermind the Bollocks", o disco que deu impulso ao revolucionário movimento punk, McLaren falou à Folha sobre o começo daquela cena, sua vasta carreira e suas perspectivas de um futuro violento.



FOLHA - "Nevermind the Bollocks" está completando 30 anos. Como o sr. vê o impacto do disco?
MALCOLM MCLAREN - Ele foi um catalisador que ajudou a criar um dos movimentos culturais mais importantes do século 20, o punk. Na época, as pessoas não estavam preparadas para aceitá-lo, foi um holocausto na mídia, mas, hoje, podemos ver o quanto ele mudou o modo de vida. Foi algo que desconstruiu a cultura e a democratizou, deu oportunidade a todos de fazerem por si mesmos, esse foi o lema ("faça você mesmo") que orientou o punk. Ele deu propósito à atitude irresponsável, infantil e provocadora de não ter de ser profissional, parte de uma indústria. Fez o amadorismo ser excitante e parecer mais sincero, o feio parecer bonito.

FOLHA - Como um movimento tão polêmico se tornou tão influente?
MCLAREN - Ele foi o último grande ataque anticorporativo, uma tentativa de devolver o brilho à velha cultura fora-da-lei do rock, e deu horizonte e esperança para uma nova geração. O punk mudou a maneira como olhávamos as coisas, não apenas na música, mas na moda, nas artes contemporâneas. Não haveria Damien Hirst [um dos principais artistas britânicos atuais] se não fosse o punk. O movimento ensinava a não temer o fracasso e isso apelava às novas gerações, porque permitia a elas imaginar que poderiam mudar a cultura e suas vidas. E, por um momento, isso realmente aconteceu.

FOLHA - Ter alcançado o sucesso não foi, então, decepcionante?
MCLAREN - Muita gente não percebeu, na época, que com o Sex Pistols eu tentava criar um grupo pop. Algumas pessoas acham que o pop não tem integridade ou credibilidade suficiente, mas era ele que eu queria trazer a bordo, porque odiava a cultura britânica e não achava que, sendo um grupo celebrado por meia dúzia de críticos, conseguiria mudá-la. A maneira de se tornar grande era aborrecer a todos.

FOLHA - Mas os Sex Pistols reclamavam dos seus métodos.
MCLAREN - Eles reclamavam porque eu era um manipulador, não queria que eles fossem parte de uma cena underground. Os Pistols foram muito maiores porque foram tratados como os Monkeys, como uma banda pop. E, por trás disso, é preciso entender que eu tinha objetivos políticos, que transpareciam nas letras de John Lydon [vocalista]: eu era um ex-estudante de arte, tinha visto a vaidade dos anos 60, a auto-indulgência e o egoísmo, e não queria nada além de destruir, da maneira mais provocativa possível, toda aquela cultura. Os Pistols nunca entenderam isso, sempre acharam que eu estava criando uma fraude, mas eu não estava interessado nos problemas pessoais da banda, queria saber o que as manchetes dos jornais iam dizer, se conseguiríamos colocar a imagem da rainha com um alfinete no nariz nas primeiras páginas.

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